quinta-feira, 21 de agosto
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Quando a disciplina abandona a igreja, Cristo abandona com ela?

Cento e cinquenta anos atrás, John Dagg sugeriu que “quando a disciplina abandona a igreja, Cristo abandona com ela”. Nesse tempo, os batistas e a maioria dos outros evangélicos praticavam uma meticulosa disciplina eclesiástica. Pelos próximos cinquenta anos, a maioria dos evangélicos abandonou a prática. Por pelo menos três gerações até agora, igrejas evangélicas no ocidente têm negligenciado essa prática. Ainda durante esse período, o Senhor abençoou muitas dessas igrejas de formas espirituais e materiais. Então, Dagg estava certo?

Sentimos que Dagg deveria estar certo, mas…

Não duvidamos em sentir que Dagg deveria estar certo. Negligenciar a disciplina eclesiástica é desobedecer a Jesus Cristo. O Senhor ordena que as igrejas exercitem a disciplina em Mateus 18.15-17, como também em muitas outras passagens no Novo Testamento. Ainda assim, Cristo evidentemente não abandonou ainda nossas igrejas evangélicas, a despeito do fato que nossas igrejas têm abandonado a disciplina. Esse fato nos lembra que não há uma simples correlação entre uma desobediência da igreja de um lado e do outro, ferrugem espiritual e abandono de Cristo. Nosso Senhor julga nossa desobediência no tempo e na medida da sua sabedoria.

Um fator que pode ter atrasado o julgamento de Deus é que nossas igrejas são fiéis em áreas significantes do serviço evangélico. De fato, nossa ambição de espalhar o evangelho tem sido um obstáculo para obedecer a Cristo na questão da disciplina. Muitos pastores e membros das igrejas temem que disciplinar membros desobedientes resultará em mais prejuízo do que vantagem para o avanço do evangelho. Afugentará “boas” famílias envergonhadas e com raiva, e nos renderá um motivo de chacota e desgosto entre os descrentes, que enxergam a disciplina como bárbara e contrária ao senso comum de compaixão. Nossas igrejas negligenciam a disciplina com medo que a prática prejudique a causa de Cristo.

Mas mesmo com nossos motivos virtuosos, desobediência ainda é desobediência, e seremos chamados a prestar contas. O fato de que o Senhor mostrou misericórdia e paciência em direção às igrejas desobedientes não é desculpa para sua desobediência. Estamos presumindo com base na misericórdia do Senhor e não tememos seu julgamento.

A negligência da disciplina eclesiástica, entretanto, expõe ao perigo a igreja de outras formas fundamentais. A perda da disciplina eclesiástica diminui as fundações da própria igreja.

Enfraquecendo as fundações da igreja

Igrejas que falham em praticar disciplina enfraquecem seu caráter regenerativo. Ao omiti-la, toleram um comportamento pecaminoso em sua membresia e fazem de si lugares confortáveis para não-regenerados.

Igrejas que falham em aplicar disciplina enfraquecem também a santidade da igreja, visto que isso enfraquece os crentes na sua luta contra o pecado. Jesus deu a disciplina como um dos remédios do evangelho, sem o qual nossa santificação irá se afrouxar. Aplicar disciplina eclesiástica para nossas doenças pecaminosas fortalecerá cristãos em sua batalha durante a vida com Satanás, o mundo e a carne.

Igrejas que falham em praticar disciplina enfraquecem posteriormente sua espiritualidade, zelo e devoção ao Salvador. Disciplina ensina à igreja a obedecer ao Senhor em uma área que é desagradável, aborrecível e contrária às sensibilidades gerais da cultura. Ao exercitar a disciplina, comprometemo-nos à forma espiritual de Cristo, mesmo quando a razão, compaixão e civilidade parassem argumentar que devemos não obedecer. Cristãos, dessa forma, aprendem a confiar na sabedoria de Cristo em vez da sabedoria do mundo. Eles aprendem a obedecer a Cristo apesar das consequências desconfortáveis.

Ao negligenciar a disciplina, treinamos nós mesmos para não tomar a cruz, não temer ao Senhor, não sofrer desejosamente por causa de Cristo e não nos opormos ao mundo. E uma vez bem treinados por negligenciar a disciplina eclesiástica, as igrejas perderão seu comprometimento ao evangelho em si.

Quando a igreja abandona a disciplina, ela abandona Cristo

Isso foi o motivo pelo qual Dagg disse que quando disciplina abandona uma igreja, Cristo abandona com ela. Entretanto, talvez seja mais preciso dizer que quando uma igreja abandona a disciplina, ela abandona Cristo. Igrejas não pretendem abandonar Cristo e talvez não façam isso inteiramente. Mas por negligenciar a disciplina, elas começam a colocar um entrave entre elas e Jesus.

Em adição, o princípio sobre o qual elas abandonaram a disciplina age como fermento, trabalhando mais amplamente para enfraquecer o comprometimento da igreja a Cristo e sua habilidade de tomar sua cruz e segui-lo. Elas se conformam cada vez mais ao mundo. É só uma questão de tempo antes de Cristo abandoná-las.

No Novo Testamento, o Senhor julgou igrejas que toleraram ofensas contra a lei de Deus. A igreja de Corinto observou a Ceia do Senhor de forma pecaminosa por tolerar imoralidade, divisões, parcialidade e desprezo entre os membros. Portanto, Deus visitou algumas delas com doença e outras com morte (1Coríntions 11.30). O texto grego e o contexto sugerem que a falha delas não foi tanto uma falha em reconhecer a presença de Cristo, “discernir o corpo”, mas foi uma falha de disciplina, “julgar o corpo” (1Coríntios 11.29). Em todo caso, há uma conexão direta entre a tolerância da igreja dos Coríntios de comportamento pecaminoso e o julgamento de Deus sobre eles.

Jesus repreende as igrejas que desobedeceram seu mandamento de praticar a disciplina eclesiástica fielmente. Ele admoestou as igrejas de Pérgamo e Tiatira porque elas negligenciaram a disciplina eclesiástica (Apocalipse 2.14-15, 20). A igreja de Pérgamo tolerou aqueles que mantinham “o ensino de Balaão” e outros que mantinham o “ensino dos Nicolaitas”. A igreja de Tiatira tolerou a falsa profetisa. Ele lhes ordenou a se arrependerem, o que só poderia ser alcançado através da disciplina eclesiástica. Não sabemos ao que se estendeu o arrependimento desses pecados da falha de disciplinar. Entretanto, sabemos que Jesus julgou essas igrejas em última instância ao abandoná-las.

Se nos recusarmos a arrepender-se

Se nossas igrejas se recusarem a se arrepender de tolerar pecado não arrependido entre nossos membros, podemos esperar julgamento. Portanto, que nós não mais presumamos baseado na misericórdia do Senhor. Que nós consideremos bem a reprovação do Senhor para igreja de Sardes em Apocalipse 3.1-3 para nossas igrejas:

“Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas, diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.”

Nessa hora descobriremos que Dagg estava certo.

 

Tradução: Matheus Fernandes
Revisão: Yago Martins
Original: Was Dagg Right?


Autor: Gregory A. Wills

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Ministério: Ministério Fiel

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