quinta-feira, 28 de março

Como os homens vêm a Cristo

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Como Deus traz homens a Cristo? Os pregadores arminianos geralmente dizem que Deus traz homens a Cristo por meio da pregação do evangelho. É verdade; a pregação do evangelho é o instrumento para trazer homens a Cristo, mas precisa haver algo mais que isso. A quem Cristo dirigiu essas palavras? Ora, às pessoas de Cafarnaum, onde Ele pregava com freqüência, onde Ele proferiu, com lamentação e tristeza, as maldições da lei, bem como os convites do evangelho. Naquela cidade, o Senhor Jesus havia realizado muitos sinais poderosos e diversos milagres. Na verdade, Ele ministrou aos moradores de Cafarnaum tantos ensinos e operou tantas confirmações miraculosas, a ponto de declarar que, se Tiro e Sidom houvessem sido abençoadas com tais privilégios, há muito teriam se arrependido em pano de saco e cinzas.

Ora, se a pregação do próprio Cristo não foi proveitosa para tornar esses homens capazes de vir a Ele mesmo, não é possível que a pregação do evangelho fosse a única coisa idealizada por Deus para trazer os homens a Jesus. Não, queridos irmãos, vocês têm de observar novamente: o Senhor Jesus não disse que o homem não virá a Ele, se o ministro do evangelho não o trouxer; e sim que se o Pai não o trouxer. Ora, existe o ser trazido pelo evangelho e pelo pregador, sem ser trazido por Deus. É claro que Jesus estava falando de ser trazido por Deus, o Altíssimo — a primeira Pessoa da gloriosa Trindade —, enviando a terceira Pessoa, o Espírito Santo, para induzir homens a virem a Ele, Jesus.

Alguém pode se levantar e dizer com escárnio: “Então, você acha que Cristo traz os homens a Ele mesmo, vendo que os homens não têm disposição para fazer isso?” Lembro-me de haver conhecido um homem que disse: “Senhor, você pregou que Cristo apanha os homens pelos seus cabelos e os traz a Si mesmo”. Perguntei-lhe se podia lembrar o dia em que preguei um sermão contendo essa extraordinária doutrina. Se ele pudesse lembrar, eu ficaria grato. Mas aquele homem não pôde lembrar tal dia. Eu lhe disse que, embora Cristo não traga ninguém a Ele mesmo, puxando-o pelos cabelos, creio que Ele traz pessoas por meio do coração, fazendo-o de maneira quase tão poderosa quanto aquela ilustração poderia sugerir.

Observem que no trazer do Pai não há qualquer compulsão. Cristo nunca obriga qualquer pessoa a vir a Ele contra a vontade dela mesma. Se alguém não quer ser salvo, Cristo não o salva contra a vontade dele mesmo. Então, de que maneira o Espírito Santo traz o homem a Cristo? Ora, Ele o faz tornando o homem disposto. É verdade que o Espírito Santo não usa a “persuasão moral”. Ele conhece um método mais fácil de alcançar o coração do homem. O Espírito Santo vai às fontes secretas do coração e, sabendo exatamente como, por meio de uma realização misteriosa, muda a direção da vontade humana, de modo que, assim como Ralph Erskine o apresentou de modo paradoxo, o homem é salvo “com pleno consentimento, contra a sua própria vontade”; ou seja, ele é salvo contra a sua velha vontade. Mas ele é salvo com pleno consentimento, pois Deus o tornou disposto no dia do seu poder.

Não imaginem que qualquer pessoa irá ao céu esperneando e gritando, em todo o caminho, contra a mão que o traz a Cristo. Não imaginem que alguma pessoa será mergulhada no banho do sangue de Cristo, enquanto se esforça para fugir de seu Salvador. Oh! Não. É verdade que, antes de tudo, o homem não tem disposição de ser salvo. Quando o Espírito Santo coloca a sua influência sobre o coração, o teste se cumpre: “Leva-me após ti” (Ct 1.4). Seguimos, enquanto Ele nos atrai, felizes por obedecer à voz que antes desprezamos.

Mas o âmago deste assunto se encontra na transformação da vontade. Como isso acontece, ninguém sabe. Esse é um daqueles mistérios que é percebido de maneira mais evidente através dos fatos; contudo, ninguém pode descrevê-lo, nenhum coração pode imaginá-lo. A maneira aparente em que o Espírito Santo age, nós podemos dizer-lhe. A primeira coisa que Ele faz, quando vem ao coração de uma pessoa, é esta: Ele a encontra nutrindo uma excelente opinião a respeito de si mesma. Ora, o homem diz: “Eu não quero vir a Cristo. Tenho uma justiça pessoal tão boa, que qualquer pessoa pode desejá-la. Sinto que eu posso chegar ao céu confiando em meus próprios direitos”. O Espírito Santo desnuda tal coração, fazendo-o ver o câncer repugnante que está devorando sua vida; descobre à pessoa todas as trevas e corrupção daquele recinto infernal, o coração humano; assim, a pessoa fica horrorizada. “Nunca pensei que eu fosse assim. Aqueles pecados que julgava insignificantes se acumularam e atingiram uma proporção imensa. Aquilo que eu julgava ser um montículo cresceu e se tornou uma montanha elevada; era apenas um arbusto, agora é um cedro do Líbano. Oh!”, diz a pessoa a si mesma, “tentarei reformar a minha vida; farei boas obras suficientes para limpar completamente estas obras mortas”. Então, o Espírito Santo lhe mostra que ela não pode fazer isso e remove todo o poder e a capacidade ilusória da pessoa, de modo que ela se prostra, em seus joelhos, clamando em agonia: “Oh! Pensei que poderia salvar a mim mesmo por meio de minhas boas obras, mas percebo que,

Se minhas lágrimas jorrassem eternamente,
Se meu zelo não conhecesse
nenhum limite,
Tudo que fizesse pelo pecado
não o expiaria.
Tu, Senhor, e somente Tu,
podes salvar-me”.

Depois que o coração afunda, o homem está pronto para entrar em desespero. E diz: “Nunca posso ser salvo. Nada me pode salvar”. Neste momento, o Espírito Santo se aproxima e mostra ao pecador a cruz de Cristo, outorgando-lhe olhos ungidos com colírio celestial e declarando: “Olhe para aquela cruz, o Homem que ali morreu salva pecadores. Você sente que é um pecador; Ele morreu para salvá-lo”. Assim, o Espírito Santo capacita o coração a crer e a vir a Cristo. E, quando o homem vem a Cristo, pelo amável trazer do Espírito, encontra a “paz de Deus, que excede todo o entendimento” e guarda sua mente e seu coração em Cristo Jesus (Fp 4.7).

Agora você percebe claramente que tudo isso pode ser feito sem qualquer compulsão. O homem é trazido com tanta voluntariedade como se não tivesse sido atraído. Ele vem a Cristo com todo o seu consentimento, como se nenhuma influência secreta houvesse agido em seu coração. Mas essa influência tem de ser exercida, pois, do contrário, nunca haveria (nem haverá) qualquer pessoa que poderia ou desejaria vir ao Senhor Jesus Cristo.


Autor: Charles H. Spurgeon

C. H. Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista mensal chamada “Sword and Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente na área devocional.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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