sexta-feira, 19 de abril

Meu encontro com Deus

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As mudanças em minha vida profissional, embora grandes, não tiveram conseqüências tão amplas quanto a mudança ocorrida em minhas crenças, as quais aconteceram ao mesmo tempo. Eu fora criado em uma família que ia à igreja e sempre pensei que era um cristão. Meus pais se conheceram na igreja, e a vida social da família se centralizava nas atividades da igreja. Eu havia sido membro da Escola Dominical desde a infância; havia participado do Grupo Missionário e, em cada mês de maio, havia marchado na parada anual de aniversário da União de Escola Dominical, no Brooklin. Mas não tinha qualquer indício a respeito de quem eu realmente era em minha vida espiritual, qual era a verdadeira condição de minha alma e para onde estava indo.

Quando nossa família se mudou para Flatbush e se reuniu na Igreja Batista do Redentor, eu não sabia a que Redentor se referia, e nem mesmo tive a idéia de procurar descobrir. Eu devo ter sentido algum anelo espiritual, porque no verão de 1948, durante uma visita aos meus pais, na ilha de Vinalhaven, no Estado de Maine, sentei-me sobre as rochas da praia, e li o Novo Testamento duas vezes. Entretanto, nenhuma luz nova resplandeceu. Mas, naquele ano, compreendi gradualmente o que significa ser um cristão. Sendo uma pessoa cujo treinamento e experiência colocavam sua fé totalmente na ciência, cheguei a perceber uma verdade mais elevada. A partir daqueles dias, vi uma co-existência entre a ciência e Deus.

Foi Erna Goulding, uma amiga preciosa e enfermeira no Hospital Infantil, quem sentiu que eu estava à procura de um significado espiritual. Uma noite, quando Betty e eu saíamos do nosso apartamento para assistir a um programa musical que atraía muitos à Primeira Igreja Batista, no centro da cidade de Filadélfia, Erna sugeriu que caminhássemos uma quadra mais, além da Igreja Batista, e fôssemos ao culto da Décima Igreja Presbiteriana. Ela imaginou que apreciaríamos a pregação intelectual do cristianismo ministrada por Donald Grey Barnhouse. Mas não aceitamos sua sugestão.

Entretanto, no domingo seguinte, conclui cedo algumas rotinas importantes e logo me vi caminhando em direção à Décima Igreja Presbiteriana, que ficava alguns quarteirões ao norte do hospital. Entrei pela porta de trás e subi, com calma e rapidez, à galeria. Iria apenas observar. Gostei do que vi e fiquei fascinado pelo que ouvi. Vi a congregação dar resposta espontânea e generosa às necessidades sociais; não era um cristianismo vazio.

Ouvi os ensinos de um dos homens mais instruídos que já havia conhecido, um verdadeiro erudito que também possuía o dom de ilustrar a complexidade — e a simplicidade — das doutrinas cristãs por meio de histórias e símiles notáveis e incisivas. Estava bastante interessado; por isso, retornei no domingo seguinte, pela manhã. E, algumas horas mais tarde, voltei para o culto da noite. Fiz isso todos os domingos, por dois anos seguidos; exceto quando eu não estava na cidade, não perdia um culto da manhã ou da noite. Por ser muito ocupado, o único cirurgião-pediatra na costa leste, ao sul de Boston, passar dois anos sem um caso de emergência que me prenderia no domingo, pela manhã ou à noite, pareceu-me quase um milagre.

Depois de aproximadamente sete meses, compreendi que me tornara um participante e não apenas um observador. O que era bom para aquela igreja também era bom para mim. Tudo era novo para mim. Eu não estava apenas mudando da fé exercida por meus pais para a minha própria fé.

Foi somente depois de me assentar na galeria daquela igreja da Filadélfia que compreendi a verdade elementar do evangelho de Cristo: todos somos pecadores, incapazes de satisfazer o padrão de justiça e santidade de Deus, ainda que nos esforcemos arduamente. Aprendi que o “pecado” não significa apenas as grandes coisas más que fazemos, nem mesmo aquelas pequenas coisas que fazemos, e sim todas as nossas realizações que ficam aquém do padrão de Deus. Aprendi que o vocábulo traduzido por “pecado”, nas Escrituras, também era utilizado na arte de atirar flechas e significava “errar o alvo”. Todos nós, não importa o quanto nos esforcemos, erramos o alvo de Deus quanto à sua justiça e santidade. Assim como muitos outros que confessam ser cristãos, eu imaginava que estava tentando viver tão corretamente quanto podia, mas, assim como eles, eu sabia, no fundo de meu coração, que minha natureza, tal como a deles, era pecaminosa e que os esforços para reformar a mim mesmo seriam completamente inúteis. Eu sabia que, querendo ou não, todos somos imortais e temos de passar a eternidade em algum lugar, quando esta vida acabar.

Durante aqueles vários meses, assentando-me na galeria da Igreja Presbiteriana, a pregação vinda do púlpito esclareceu para mim: a essência do cristianismo não é o que nós fazemos, e sim o que Cristo fez por nós. Entendi o significado da crucificação, do sacrifício de Cristo e do perdão divino. Compreendi que ou meus pecados estavam sobre mim, ou estavam sobre o Senhor Jesus. Entendi como a expiação realizada por Cristo era necessária para nos reconciliar com Deus.

Acima de tudo, eu compreendi o amor de Deus. Assim como muitos crentes novos — e crentes velhos — considerei João 3.16 o versículo mais significativo da Bíblia: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

Eu me tornara um crente. Betty, minha esposa, também se tornou crente. Com o nascimento de nosso filho, David, ela estava bastante ocupada com três filhos, mesmo assim conversávamos a respeito de nossa fé recém-encontrada, quando eu voltava da igreja para casa; entusiasticamente eu compartilhava o que havia aprendido. Crescemos juntos como crentes. Foi um dos tempos mais estimulantes de nossa vida, com muitas perguntas a serem respondidas. Muitas dessas perguntas já foram respondidas, mas ainda nos sentimos estimulados.

Por meio deste começo, reconheci a Jesus Cristo em minha vida e descansei minha fé na soberania de Deus. Compreendi que minha vida não era uma série de dilemas seguidos por coincidências felizes. Sabia que havia um plano para a minha vida; isto me trouxe uma segurança que eu nunca havia experimentado.

Não importa o que mais eu realizaria em minha vida, eu seria um cristão. Logo descobri que pessoas não ficaram contentes quando lhes disse que eu era um cristão. Elas queriam saber que tipo de cristão, que qualificação, que igreja. Depois que me tornei Cirurgião Geral dos Estados Unidos, a imprensa se referia a mim como um cristão “fundamentalista”. Em um sentido, isso estava correto, porque afirmo as doutrinas fundamentais do cristianismo. Todavia, a palavra “fundamentalista” possui uma conotação negativa; os fundamentalistas são mais conhecidos por aquilo ao que eles se opõem do que por aquilo que eles defendem. Esse rótulo nunca se encaixou em mim.

Sempre me chamei de “cristão evangélico”. A palavra “evangelista” significa “mensageiro”, portador de notícias. O cristão evangélico leva aos outros as boas-novas da misericórdia de Cristo. Durante a minha vida, tenho sido um mensageiro, um portador de notícias. Como um cirurgião comum, trouxe boas e más notícias aos meus pacientes. No cargo de Cirurgião Geral, trazia boas notícias, em alguns dias, e, com certeza, minhas advertências, em outros dias. Entretanto, as melhores notícias que já transmiti a qualquer pessoa foram as boas-novas a respeito do amor de Deus por nós, em Cristo Jesus.

O despertamento espiritual teve um profundo efeito em minha vida e influenciou tudo o que aconteceu posteriormente. Como um evangélico, procurei avaliar tudo à luz das Escrituras e encontrei na Bíblia meu guia de fé e de conduta, sempre temperadas com a graça e o perdão de Deus.


Autor: C. Everett Koop

C. Everett Koop foi um médico cristão e ex-Cirurgião Geral dos EUA. Trouxe o aborto para a vanguarda da ação social evangélica. Juntamente com o teólogo Francis Schaeffer, Koop, que foi também um cirurgião pediátrico pioneiro, expôs as questões do aborto e eutanásia em uma série de filmes e livros no início da década de 80. Com seus argumentos, Koop começou o movimento contra o aborto, que continua dentro do evangelicalismo americano hoje. Graduado pela Dartmouth College, Cornell Medical College e Universidade da Pensilvânia, Koop criou a primeira unidade de terapia intensiva de cirurgia neonatal, e foi o primeiro cirurgião a separar gêmeos unidos pelo coração, de acordo com o National Institutes of Health (NIH).

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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