quinta-feira, 28 de março

Quem é Deus?

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Geralmente se tem por certo que todos conhecem a Deus. Mas isso não corresponde à realidade. A ideia que as pessoas tem de Deus é completamente distorcida e parcial. Primeiro por falta de informação e conhecimento, tira-se conclusões apressadas baseadas apenas na sabedoria popular. Embora possuamos o que Calvino costumava chamar de “sensus divinitat“, isto é, um senso inato de que há um Deus e que podemos ter um certo conhecimento Dele através do que nos revela a natureza, a ponto de sermos inescusáveis, o pecado afetou nossa mente de tal forma que não somos mais capazes de ter uma compreensão correta a respeito Dele por nós mesmos. Para falar a verdade, nem somos dignos de cogitar a respeito de Deus ou, de modo atrevido, perscrutá-lo. Deveríamos tremer só de pronunciarmos o Seu Santo Nome, quanto mais de termos o desplante de sondá-lo; quem somos nós? Somos todos como aqueles cegos da fábula oriental que foram levados para saber como era um elefante. Começaram a tatear as partes do paquiderme e anunciavam suas conclusões: o primeiro, apalpando a tromba, gritou: “o elefante é como uma grande serpente!”, o segundo abraçando uma das pernas replicou: “não, é antes como um grosso tronco de árvore!”, e o terceiro, fazendo deslizar as mãos pelos lados do imenso animal, retrucou: “É como uma parede ambulante!”. Assim, uns dizem: “Deus é amor!”, outros: “Deus é Luz!”, e ainda “Deus é verdade!”, mas sempre de forma parcial. Se desejamos ser salvos, precisamos conhecer a Deus. Jamais teremos conhecimento correto da salvação tendo noções distorcidas do Deus que salva. Então, qual seria a descrição confiável do Criador? Como saber com Ele é? Jamais saberíamos se Ele mesmo não quisesse graciosamente Se revelar. Felizmente Ele quis e o fez, condescendendo com a nossa humílima condição, até onde podíamos alcançar, Deus se revelou nas Escrituras! É através do Santo Livro, a Palavra de Deus, que podemos, de forma correta, saber quem Deus é.

Contudo, é bom que saibamos desde já que nunca seremos capazes de compreendê-lo devido à Sua incomensurável grandeza. Somos criaturas finitas e jamais abarcaremos o infinito. Somos criaturas, Ele é o Criador! A Bíblia diz que “Ele habita em luz inacessível onde homem algum jamais penetrou…” (I Tm 6:16). Mas de forma alguma se trata de um deus como o concebem os deístas, ausente e totalmente alheio às suas criaturas e ao destino delas. O Deus da Bíblia é um Deus imanente, que se compadece, age na vida dos filhos dos homens e habita com eles: “Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57:15).

A Confissão de Fé de Westminster, documento de doutrina importantíssimo das Igrejas Reformadas, escrito pelos puritanos do século XVII, homens piedosos, distinguidos por sua fidelidade às Escrituras, faz a seguinte afirmação a respeito de Deus:

“Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade, que é reta e imutável, e para a sua própria glória. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o buscam; é, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado”. Isto corresponde exatamente ao que a Bíblia ensina a respeito de Deus.

Observe bem esta frase: “completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade que é reta e imutável…” Lembre-se, nós estamos falando de um DEUS! Às vezes, não nos damos conta disso, estamos vivendo uma época tão soberba que parece que Deus é um igual, se não, pelo menos de alguém superior, mas que tem de prestar conta de seus atos. Como se dissessem: “nós permitimos que você exista, desde que seus atos como Deus estejam dentro dos nossos padrões de justiça! Queremos que você seja uma Deus de amor e respeite nosso livre arbítrio”. Aliás, foi exatamente isso que Erasmo de Roterdã, um teólogo católico humanista, disse a Lutero numa discussão que travaram sobre a doutrina bíblica da Eleição. Erasmo, defendendo o livre arbítrio, disse a Lutero: “Deixa Deus ser amor! Ao que Lutero, defendendo a livre e soberana vontade de Deus em escolher os seus, respondeu: “Deixa Deus ser Deus!”. Quando o apóstolo Paulo, defendendo a mesma doutrina em Romanos capítulo 9:8-24, responde a uma suposta objeção ao direito de Deus ter misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia e compaixão que quem lhe aprouver ter compaixão, responde: “Mas, ó homem, que és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou, por que me formaste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?”. Seria mais ou menos se o dono de uma cerâmica recebesse, por parte das latrinas, uma reclamação formal pelo fato de não terem sido pratos! Ainda que tenham sido feitas com esmero, perfeitas e brilhantes! Ainda que tenhamos sido criados à imagem e semelhança de Deus, não passamos de criaturas. É bobagem essa estória de que fomos criados para fazermos o que quisermos, dotados de livre arbítrio e tudo mais, isso não é verdade. Fomos criados para obedecer a Deus, ser aquilo para o qual fomos criados e fazer o que Ele planejou que fizéssemos: “glorificar a Deus e goza-lo para sempre”. O que Deus formulou para o homem no paraíso não se tratou de uma opção soberana de escolha concedida a ele entre pecar ou obedecer, ao contrário, era obedecer ou obedecer, pecar seria a morte!

Gostaria também de destacar a palavra “santíssimo” e o parágrafo final da Confissão: “é contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado”. Você já havia pensado neste aspecto considerando a pessoa de Deus? Admitimos facilmente que Ele é santo sem nos apercebermos das sérias implicações disso, contudo há sérios problemas para pecadores como nós no fato de Deus ser santo! Se Ele é santo, terá que ser justo, odiar o pecado e não ter por inocente o culpado! A Bíblia nos relata a visão que Isaías, um santo profeta, teve da glória de Deus: “No ano da morte do rei Usias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, toda terra está cheia de sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de homens de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”. A visão é gloriosa e nos dá um vislumbre do que é a glória de Deus. Os Serafins, criaturas santas que assistem constantemente na presença de Deus, temem a Sua santidade. Está escrito: “Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos” (Jó 15:15), eis a razão porque tinham seis asas. Com duas cobriam o rosto e com duas cobriam os pés. Isto é um símbolo que significa reverência para com a santidade de Deus. Estes seres celestiais, criados em pureza, não são achados dignos e nem mesmo podem suportar o esplendor da glória que refulge na face daquele que está sentado no trono; têm que cobrir o rosto, têm que cobrir os pés; as asas designadas para voar significam a presteza que devem ter para cumprir as suas ordens e não podem dizer outra coisa senão: “Santo! Santo! Santo! É o Senhor dos Exércitos!”. Que pureza! Que glória! Que santidade! Deus habita em luz inacessível, onde homem algum jamais penetrou! Todos os homens que tiveram apenas um vislumbre de Sua glória caíram como mortos! “Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno; ao seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação” (Jr 10:10).


Autor: Josafá Vasconcelos

Rev. Josafá Vasconcelos Pastor da Igreja Presbiteriana da Herança Reformada em Salvador; foi Presidente do Presbitério da Bahia; conferencista reformado no Brasil e exterior; foi membro da Comissão de Evangelização da Igreja Presbiteriana do Brasil. Conferencista, autor e tradutor de diversos artigos publicados na revista Os Puritanos e dos livros: “Nada se Acrescentará” e ”O Outdoor de Deus”. Tem sido conhecido, em todo o Brasil, como um de seus principais evangelistas.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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