sexta-feira, 29 de março

Superando o legalismo

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Jimmy foi criado em uma igreja legalista. Ele professou a fé quando criança e foi ensinado na gloriosa verdade do evangelho que Jesus Cristo morreu pelos pecadores. Mas depois dessa profissão inicial de fé, toda a sua experiência cristã estava focada na manutenção de regras. Cristãos, ele foi instruido, mantém as regras – e não simplesmente os mandamentos bíblicos diretos, mas também uma série de “princípios” na área de namoro e amizades, uso de álcool, cultura popular, e assim por diante. A maior preocupação era manter Jimmy e os jovens cristãos como ele “sem manchas do mundo”; o resultado foi que o evangelho que ele conheceu foi mutilado por um conjunto de padrões de comportamento.

Quando Jimmy chegou à faculdade, ele estava cansado de manter as regras. As regras não apenas eram exaustivas, mas o deixavam fora de sintonia com seus colegas de quarto e amigos, que não pareciam limitados por regras, e eles pareciam estar se divertindo e felizes. Não seria melhor, menos cansativo, mais gratificante, desistir das regras e simplesmente aproveitar a vida? E assim, Jimmy desistiu de manter as regras e, ao fazê-lo, ele também se afastou da igreja. Afinal, se o cristianismo é sobre manter regras e ele não estava mais mantendo as regras, então ele não era cristão. E o cristianismo não funcionava para ele.

Infelizmente, a história de Jimmy não é incomum. De fato, para muitos jovens criados na igreja, esse é exatamente o caminho que eles seguem. É verdade que, depois de abandonar seu moralismo legalista e “aproveitar a sua juventude”, alguns deles chegam a perceber que o entendimento deles sobre o evangelho era anêmico e até falso. No entanto, a maioria deles nunca retorna à igreja e, portanto, eles nunca realmente dão ouvidos ao cristianismo bíblico.

Como respondemos a isso? Existe alguma esperança para aqueles que foram criados nos círculos legalistas da igreja, para aqueles que talvez estejam se sentindo agredidos e feridos, em conflito e confusos sobre o verdadeiro significado do evangelho?

Sim, há esperança. E essa esperança é encontrada no retorno ao evangelho de Jesus.

Pecadores Todos os Dias, Evangelho Todos os Dias
Quando voltamos ao evangelho, o que devemos confessar é que nunca vamos além do evangelho. Porque somos pecadores todos os dias, precisamos de um evangelho cotidiano.

Enquanto vivermos, estaremos lutando com os resquícios do pecado. Sim, para aqueles que confiaram em Jesus, algo decisivo aconteceu. Nós fomos unidos a Cristo. Nós nos despimos do velho e nos revestimos do novo homem. Pela fé, fomos batizados em Cristo.

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação (2Co 5. 17–19)

No entanto, apesar de sermos novas criaturas em Cristo, também aprendemos padrões, desejos desonestos e hábitos insensatos que permanecem em nós. Além disso, à medida que aprendemos mais sobre o santo Deus que nos amou com um amor inabalável, enchergamos os labirintos de nossos corações, os subterfúgios que praticamos e a natureza do pecado com “cabeça de hidra”.

A arma que Deus nos deu para combater o pecado remanescente em nossos corações e corpos é o Evangelho. Assim, trazemos nossos corações de volta para quem e de quem somos em Jesus Cristo: estamos unidos a Jesus, somos aqueles a quem ele declarou serem justos e santos. Além disso, Ele concedeu o Espírito Santo para capacitar nossas mentes e corações para dizer sim à justiça e não à injustiça. No poder do Espírito, nós condenamos à morte os delitos da carne e vivemos para as práticas virtuosas da santidade.

Porque pecamos todos os dias e porque seremos pecadores até o dia em que morrermos, precisamos do evangelho todos os dias. Quando meditamos sobre o que Cristo fez por nós através de sua vida, morte, sepultamento, ressurreição e ascensão, e como vemos cada vez mais claramente como toda a Escritura é sobre a obra de Cristo, somos transformados em um tipo diferente de pessoas. O próprio evangelho nos molda a cada dia em novas mulheres e novos homens.

O peregrino
Essa conformação evangélica significa que o cristianismo não se trata do cumprimento de regras. Na verdade, um cristão obedece à Palavra de Deus, mas o caminho para a obediência não está em se concentrar em manter as regras, voar corretamente e fazer melhor. O âmago do que Jesus faz no Sermão da Montanha, em Mateus 5, é destruir a noção de que a justiça é mera obediência externa à lei, quando Ele diz: “se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5.20), ele nos diz que o caminho para a justiça não é através da mera obediência externa. Em vez disso, o caminho para uma vida justa é a transformação de dentro para fora, pelo Espírito, à medida que progredimos em viver no evangelho. Ao usarmos os meios da graça – incluindo a adoração corporativa centrada na Palavra, sacramentos, oração e comunhão, bem como a adoração privada – Deus nos encontra, conduz o evangelho aos nossos corações, confronta nossos padrões pecaminosos de pensamentos, palavras, e ações, e nos faz novos.

Mas esse tipo de transformação do evangelho leva tempo. Nós progredimos nela à medida que somos transformados, conformados e moldados pela obra do Espírito. À medida que crescemos e avançamos, enxergamos mais pecados, enfrentamos mais engano, acreditamos mais no evangelho, recebemos mais consolo divino. Aprendemos por experiência e adquirimos sabedoria e discernimento quando nos convertemos da loucura para a reverência e amor ao Senhor.

E é aqui que está a questão: à medida que vivemos em sintonia com o Espírito, na verdade vivemos de forma que “guardamos as leis”. Aqueles que têm o fruto do espírito do amor são aqueles que guardam as duas tábuas dos Dez Mandamentos. Aqueles que tiverem alegria conhecerão a força para dizer não ao pecado e sim à justiça, aqueles que carregam a paz serão íntegros e saudáveis, não inquietos ou ansiosos, e assim por diante. Nós mantemos as leis, não focalizando-as como meras ações que devem ser cumpridas, mas concentrando nossos corações em Jesus, em quem ele é, e no que ele fez e está fazendo, por meio do Espírito, em nós, para nos fazer cumprir a lei.

Caráter e Chamado
Em outras palavras, o evangelho da graça de Deus transforma nosso caráter. Começamos a viver na nova realidade da criação que é nossa porque estamos unidos a Jesus Cristo. A imagem de Deus começa a ser restaurada em nós quando o Espírito opera em nós a santidade, a justiça e o genuíno conhecimento de Deus. Nós vamos nos tornando as pessoas que Deus planejou para nós durante todo o tempo.

Esse tipo de formação de caráter não pode acontecer simplesmente como cristãos isolados estudando a Palavra de Deus ou orando sozinhos, pelo contrário, isso acontece através da comunidade chamada “igreja”, à medida que aprendemos a amar e a viver entre pessoas dramaticamente diferentes de nós. A nova forma de viver que Paulo detalha em Efésios 4–5 e Colossenses 3 só podem acontecer na comunidade: deixando a mentira, fale cada um a verdade, por quê? “Porque somos membros uns dos outros” (Efésios 4.25). Nós não permitimos que a raiva crie raízes em nossos corações, por quê? “Para não dar oportunidade ao diabo” para nos dividir uns dos outros (v. 27). Não permitimos que nenhuma palavra torpe saia de nossas bocas, nem amargura, ira, raiva ou malícia, por quê? “Para que [nós] possamos transmitir graça àqueles que ouvem” (v. 29, 31). Você notou? O novo e renovado caráter que o Espírito opera em nós é para os outros, e isso só pode ser formado e expresso na comunhão com os outros.

À medida que somos moldados pelo evangelho, Deus nos chama para a vida dos outros e para o seu mundo. Recebemos dons para compartilhar com os outros, habilidades dadas pelo Espírito que edificam os outros no evangelho. Esses dons são diferentes e necessários se nós e os outros vamos ser o povo que Deus pretende que sejamos (Rm 12; 1Co 12). Novamente, isso significa que devemos fazer parte da comunidade chamada “igreja”, não para que possamos verificar a frequência à igreja em nossa caderneta de frequência, mas para que possamos contribuir para a formação de outras pessoas no evangelho.

Mas Deus também nos chama ao seu mundo como sinais e agentes da nova criação. Enquanto vivemos como maridos e esposas, mães e pais, pais e filhos, trabalhadores em nossas carreiras e em casa, membros e líderes da igreja, e em uma variedade de outros chamados, fazemos isso como sinais de como será quando todos estiverem no caminho que deveriam estar. Somos sinais da nova criação e também seus agentes, e isso porque Jesus nos comissionou para fazermos discípulos – para ajudar os outros a aprenderem a fé e os caminhos do evangelho, não para produzirmos mais legalistas, mas para moldar mais sinais e agentes dos novos céus e nova terra.

Este é um evangelho muito melhor do que simplesmente “guardar regras”. Este é um evangelho que dá esperança genuína para o legalista em recuperação, porque este é o evangelho de Jesus, aquele que está fazendo novas todas as coisas.

Tradução: Paulo Reiss Junior.

Revisão: Filipe Castelo Branco.

Fonte: Overcoming Legalism.


Autor: Sean Michael Lucas

Dr. Sean Michael Lucas é pastor titular da First Presbyterian Church (PCA) em Hattiesburg, Mississippi, EUA. É autor de God’s Grand Design: The Theological Vision of Jonathan Edwards [sem tradução em português].

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